10 Fotografias Cientificas e Bizarras do Século XIX

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Quando a fotografia entrou em cena no século XIX, muitos foram os cientistas que rapidamente se começaram a interessar por ela, muitos acreditavam que a camara poderia ir mais longe do que apenas no registo de imagens superficiais, tais como descobrir factos do funcionamento do corpo ou da mente, ou mesmo a alma ou o momento da morte. Muitos desses registos foram valiosos para a ciência ajudando a descobrir e entender melhor o mundo em que vivemos, a mente e o corpo. Outros não passaram de testes meio bizarros, no entanto todos eles ficam para a História da Fotografia. Seguem-se 10 registos fotográficos feitos durante o século XIX como experiências cientificas.

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1 – Guillaume Duchenne e Experiências Fisionómicas – Em 1862 Guillaume Duchenne, um neurologista francês quis testar uma famosa teoria da época que dizia que o rosto estava directamente ligado à alma. Ele já tinha feito algum trabalho a aplicar choques eléctricos aos músculos danificados de pacientes e pensou que, se pudesse aplicar corrente eléctrica no rosto de uma pessoa poderia estimular os músculos e fotografar os resultados. Um dos pacientes no hospital onde trabalhava Duchenne era um sapateiro que sofria de paralisia de Bell, uma das manifestações da doença é a paralisia facial. Duchenne submeteu o sapateiro a mais de 100 sessões, aplicando electrodos em várias partes do seu rosto para extrair uma gama de expressões conforme os choques eram aplicados em diferentes músculos. Enquanto isso, Paul Tournachon, irmão do famoso Felix Nadar, fez os registos fotográficos. Os resultados foram publicados no (Mecanisme de la Physionomie Humaine), e se as fotografias já têm um aspecto horrível, só terá que imaginar o que o pobre sapateiro resistiu. Contudo, algo de positivo saiu das experiências de Duchenne, este foi capaz de determinar que quando uma pessoa expressa um sorriso genuíno determinados músculos específicos são activados.

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2 – Albert Londe e a Histeria – Na segunda metade do século XIX uma epidemia de histeria varreu a Europa e a América. As mulheres foram em geral afectadas com uma paralisia em que não conseguiam encontrar energia para sair da cama ou queixavam-se de obstruções nas suas gargantas. No Hospital Salpêtrière, em Paris, Jean-Martin Charcot, um ex-aluno de Duchenne, começou a procurar uma explicação para a doença. Em 1878, o químico Albert Londe foi contratado como fotógrafo de medicina no Salpêtrière e começou a trabalhar em colaboração com Charcot. Um dos seus projectos era fotografar pacientes submetidos a crises histéricas, com o objectivo de ver se havia ligação entre as convulsões e a expressão facial. Para fotografar o ciclo de uma convulsão Londe inventou uma câmara cronofotográfica (câmaras que conseguiam obter várias fotografias por segundo). O primeiro modelo da câmara teve nove lentes e mais tarde uma de doze lentes. Com essas câmaras, ele foi capaz de registar expressões das convulsões anos antes do aparecimento do filme.

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3 – Étienne-Jules Marey e a Cronofotografia – Um colaborador ocasional de Londe, chamado Étienne-Jules Marey inventou alguns instrumentos médicos importantes, incluindo um Esfigmógrafo altamente preciso para gravação de pulsações. No entanto ele é mais conhecido devido às suas experiências cronofotográficas. Um século antes do aparecimento da CGI – Imagem gerada por computador, ele já prendia pequenos globos de luz aos corpos dos modelos e fotografava-os contra um fundo escuro para estudar os movimentos.

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4 – Louis Darget, Edouard Baraduc e a Fotografia do Pensamento – Também no Hospital Salpêtrière, Hippolyte Baraduc queria ir além de fotografar ataques histéricos, e juntamente com Louis Darget questionaram-se se poderiam fotografar imagens de pensamentos. Para a época isto não se tratava de uma ideia assim tão absurda, já que a fotografia estava a dar os primeiros passos e a recente invenção do raio-X mostrava que os ossos poderiam ser fotografados, e havia especulações de que o pensamento criava uma forma de impulso elétrico que poderia também ser registada. Nas suas experiências, tentaram colocar um bocado de filme na testa de um modelo, anexando uma bobina de indução entre o modelo e a camera na esperança que os impulsos de alta tensão iriam registar alguma coisa. Darget acreditava que tinha fotografado um sonho envolvendo uma águia. Em 1909 Baraduc ficou ao lado da cama da sua esposa enquanto esta estava a morrer, como qualquer marido faria. No entanto ele estava também ali não só por amor mas para fazer uma experiência, no momento em que ela estava a morrer ele disparou o obturador da sua camara, queria ver se era possível fotografar com a sua camara a alma na hora da partida.

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5 – Narkiewitsch-von-Jodko e a Electrografia – O titulo completo desta fotografia é: “Uma centelha capturada na superfície do corpo de uma prostituta bem lavada”. Em 1889 o médico polonês Narkiewitsch-Jodko fez uma demonstração na Rússia à qual chamou electrografia. Basicamente, ele usou o mesmo princípio que Darget e Baraduc, ao colocar uma bobina de indução ao lado de uma placa fotográfica com o objectivo de impressionar parte do seu corpo contra a placa. A intensa corrente electro-magnética deixou uma silhueta sombria cercada de raios de luz. Ao contrário dos cientistas franceses, Jodko não estava atrás de algo tão abstracto como o registo de um pensamento, ele como médico, queria saber o que essas auras indicavam sobre a saúde física. Ele fotografou crianças e adultos anémicos e saudáveis e prostitutas. A partir das suas pesquisas, descobriu que as pessoas doentes emitem energia mais fraca do que indivíduos saudáveis. Jodko foi um dos pioneiros daquilo a que hoje chamamos fotografia Kirlian.

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6 – Louis Ducos Hauron e os Retratos Anamórficos – Hoje em dia há coisas na fotografia que temos como dados adquiridos e nem pensamos muito nelas, mas nos primeiros anos da fotografia não era assim e essas coisas eram autênticos e sérios enigmas científicos e filosóficos. Um desses enigmas era como é possível que numa única fotografia, alguém próximo da lente que se mova fique reduzido a um borrão enquanto alguém que se encontre distante poderia ser congelado na fotografia, ou que lentes normais capturassem apenas entre 40 e 60 graus de ângulo de visão, enquanto a maioria das pessoas vê perto de 180 graus. Por que era tão difícil para processar o campo de visão normal numa camara sem distorcer a imagem? Louis Ducos Hauron é um dos grandes pioneiros da fotografia e do cinema, embora o seu nome não seja muito conhecido. Em 1877 ele inventou um processo de cor que era complicado e caro e talvez por isso não se tenha popularizado. Em 1868 inventou o um processo de stereo-visualização que produzia um efeito 3D quando as fotografias eram vistas através de lentes vermelhas e azuis. Os seus retratos anamórficos eram um resultado das suas pesquisas, na década de 1880 criou lentes que produziam imagens que ficavam distorcidas, a menos que o observador as visse a partir de um determinado ângulo.

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7 – Charles Bennett e a Experiência Militar – Em 1870 Charles Bennett tinha descoberto que quando a gelatina (usada na emulsão fotográfica) era aquecida durante vários dias “amadurecia”, e um dos resultados disso era uma emulsão de maior sensibilidade que podia reduzir a velocidade do obturador para fracções de segundo. As possibilidades que essa descoberta oferecia eram fantásticas, especialmente para os militares, que tinham interesse em novas tecnologias e descobertas. Em 1881 o tenente-coronel Henry Abbott da engenharia dos Estados Unidos da América encomendou um teste do filme e da referida emulsão de gelatina numa base militar próxima de Nova York. Para testar a camara de alta velocidade numa fotografia mandou que vários cartuchos de dinamite fossem amarrados à cabeça de uma mula. Um fio ligava os explosivos através de um engenho electro-magnético ao obturador da camara. No momento em que a dinamite explodiu o obturador da camara disparou à velocidade de  1/250 de segundo, o resultado está na fotografia obtida.

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8 – Thomas Skaife Fotografa Projéctil de Canhão – Conseguir uma fotografia destas actualmente pode não ser nada de mais, no entanto em 1858, estávamos ainda numa época em que as pessoas tinham de ficar paradas durante vários segundos até que a fotografia ficasse impressa, por isso objectos que se movessem era quase impossível de fotografar em condições. No entanto Thomas Skaife acabava de fotografar um projéctil a sair de um canhão, com uma camara construída pelo próprio. Ele conseguiu efectuar essa fotografia com um sistema que era composto por um fio que atravessava a boca do canhão, ligado a um relógio electrico e de seguida à camara. O projectil ao sair partia o fio, activando o obturador da camara. Skaife fez várias fotografias nesse dia, mas essa é uma das poucas que chegaram aos nossos dias.

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9 – Francis Galton e o Retrato CompostoFrancis Galton era primo de Charles Darwin e também poderia ter alcançado grandes feitos na área da ciência, mas a curiosidade levou-o por caminhos estranhos. Pioneiro do termo “eugenia” e por isso alguns vêem-no como excêntrico, outros consideram-no o padrinho do nazismo. Durante a década de 1880 tornou-se obcecado com a ideia de que raças e tipos tinham características faciais específicas e se conseguisse desvendar essas características ao pormenor, poderia entender muito mais sobre a natureza humana. Com vista a essas experiências ele começou a fotografar pessoas para construir retratos compostos, misturando mesmo grupos de retratos de pessoas num único rosto para comparar características. O Director-Geral de Prisões em Inglaterra, Edmund du Cane, emprestou-lhe um grande lote de retratos de condenados e ele começou por os dividir em grupos como assassinos, ladrões, etc. O seu trabalho sobre a raça é especialmente notório.

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10 – Alphonse Bertillon e a AntropometriaBertillon é famoso pelos seus retratos que foram usados ​​para medir características físicas dos criminosos e criar um registo. Assim que ficou famoso com o seu sistema, começou a questionar-se se havia características físicas únicas nas pessoas conforme as diferentes regiões francesas. Para realizar as suas experiências de forma adequada, Bertillon tinha que fotografar milhares de partes do corpo de pessoas e em seguida, descobrir que partes  aparecem frequentemente numa dada região para conseguir formar grupos semelhantes. Durante o julgamento de Alfred Dreyfus em 1890, Bertillon apareceu como perito de acusação. A fim de provar que a escrita num documento pertencia a DreyfusBertillon criou um aparelho elaborado no tribunal, mas demorou tanto tempo para o montar que foi alvo de escárnio por parte dos espectadores e o juiz expulsou-o. A sua reputação ficou destruída depois disso, no entanto criou o sistema de identificação criminal conhecido como «sistema Bertillon» que foi usado nos E.U.A. e Europa até 1970.

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