André Boto: Como Transformar uma Fotografia Normal numa Fotografia Fantastica

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André Boto é um fotografo português, freelancer, foi eleito em 2010 Fotografo Europeu do Ano pela FEP – Federação Europeia do Fotografos, além de muitos outros prémios nacionais e internacionais que tem vindo a receber. André Boto apresenta um trabalho exemplar na área da pós-produção e manipulação digital fotográfica. Publicou recentemente no YouTube um vídeo onde sintetiza em quatro minutos e meio um trabalho de manipulação de uma fotografia feita em Segóvia-Espanha, que durou perto de sete horas, desde a fotografia original até ao trabalho já finalizado. Apesar disso como refere André Boto, houve ainda um longo trabalho de planificação anterior para que depois todo o trabalho em Photoshop fosse bastante mais agilizado. O video tem tido muitas visitas e comentários pois mostra como transformar uma fotografia normal numa imagem fantástica e bastante diferente do original. Como referencias técnicas é de salientar que para a criação desta fotografia foram usados Photosho CS5 com Wacom Intuos 5, e a imagem final é composta por 156 camadas (layers). Pode fazer o download e ver a imagem mais em pormenor AQUI.
Vale a pena visitar a página de André Boto e ver outros trabalhos de grande qualidade.

Entrevista do FotografiaTotal a André Boto:

andre boto 05Quando começou o gosto pela fotografia e pela manipulação digital?
A fotografia entrou na minha vida por volta dos 18 anos, numa altura em que me começou a servir para capturar a realidade de forma a poder desenhar à vista sem ter que sair de casa com o papel e o lápis na mão. A fotografia servia-me de apoio ao desenho nessa altura, em que o desenho era o que mais me interessava. Sem saber bem o porquê, o gosto pela fotografia foi aumentando, ao ponto de deixar de desenhar e continuar apenas fotografando nos dias de hoje.
De início, tive um percurso semelhante a toda a gente (penso eu), pois dedicava-me a retratar a realidade tal como nós a conhecemos levando a técnica ao extremo como se fosse a única coisa que interessasse na fotografia, mas tentava já também encontrar planos menos comuns que passassem desapercebidos, numa linguagem muitas vezes minimalista.
Mais tarde, já na universidade, comecei a fazer as primeiras experimentações com programas de edição de imagem, e a liberdade de poder criar algo que fugisse efectivamente ao que os nossos olhos poderiam ver, fascinava-me. Senti na fotografia e nas suas potencialidades (nomeadamente a pós-produção em Photoshop) que poderia recriar o mundo criando a minha própria realidade, algo que nunca tinha sentido em nenhuma área, nem mesmo no desenho, onde me limitava a retratar a realidade tal como ela era.
É esse o fascínio que a fotografia e a pós-produção têm sobre mim ainda hoje, a liberdade para contar histórias, as minhas próprias histórias. Vejo a fotografia como um meio de comunicação e uma forma de transmitir algo, independentemente do caminho escolhido ser a fotografia analógica, digital, com ou sem manipulação.
No fundo, sou uma pessoa que faz uso da fotografia e todas as suas potencialidades para criar um suporte bidimensional (uma imagem) que comunique uma ideia.
Quais os temas que mais gosta de fotografar e que mais gosta de trabalhar?
Depois de ter experimentado vários e diferentes géneros de fotografia, a minha preferência vai para o trabalho criativo/conceptual e para o comercial.
Por um lado, fascina-me a fotografia conceptual e criativa onde não há limites técnicos nem de linguagem. A liberdade criativa para recriar o imaginário misturando técnicas seduz-me a ponto de deixar que seja a minha própria imaginação a limitar-me, e como eu costumo dizer, por vezes a imaginação já nos limita bastante.
Por outro lado, a fotografia comercial também me atrai, nomeadamente a fotografia publicitária, talvez por dentro desta área se poder trabalhar com base da imagem conceptual e criativa. Ainda dentro da fotografia comercial, gosto bastante da fotografia de arquitectura, interiores e industrial (que acabam por estar ligadas entre si). Sempre achei interessantes os jogos de luz/sombra conjugados com as formas produzidas pelo homem e consequentemente o seu impacto na sociedade e urbanismo.
No caso da fotografia de Segóvia quantas horas demorou a efectuar o trabalho e quais as principais dificuldades?
No caso da imagem de Segóvia (Espanha) (que poderão ver no vídeo) demorou a editar cerca de 6/7 horas. Pode parecer pouco tempo porque há uma série de pequenos pormenores, mas aquilo que realmente demora tempo não é  a fase de produção mas sim a fase de preparação.
Ao fazer trabalho de fotomontagem, habitualmente ocupo bastante mais tempo a pensar, planear e preparar o trabalho do que a “criar/construir” no Photoshop. Isto acontece com frequência, pois o sucesso do resultado final e a eficácia com que usamos as diferentes ferramentas do Photoshop nas fotografias de base está completamente dependente do planeamento e forma como fotografamos cada elemento/objecto/pessoa, para facilitar a pós-produção.
Por vezes, se não tivermos as fotografias correctas, simplesmente torna-se impossível chegar ao resultado final que desejamos.
Para que o resultado final seja coerente/acreditável (mesmo que saibamos que aquela situação não pode acontecer), é preciso ter um extremo cuidado com as perspectivas, as escalas, a iluminação e direcção de luz das diferentes fotografias que vamos utilizar. Todos estes detalhes podem interferir na forma como o espectador/público-alvo interpreta a nossa criação.
A minha decisão em apenas usar fotografias da minha autoria, por vezes também condiciona um pouco e faz com que o processo de trabalho seja mais demorado. Hoje em dia não há qualquer problema em comprar imagens em bancos de imagens, mas eu decidi que nos meus trabalhos/projectos usaria apenas fotografias realizadas por mim, por questões de coerência/consciência para comigo mesmo.
Para se entender melhor o porquê da criação da imagem deste vídeo, talvez seja importante dizer que esta imagem foi criada especificamente para a realização de um workshop em que os participantes eram convidados a construir esta imagem com o meu auxílio, funcionando como um exercício onde eu utilizo praticamente todas as ferramentas que costumo utilizar em composições mais complexas. É essa a razão pela qual alguns efeitos possam estar algo exagerados, pois trata-se de um exercício e o exagero é uma metodologia interessante e eficaz no ensino.
Como vê o futuro da manipulação digital e que projectos tem para o futuro nesta área?
Julgo que à parte de cada caminho escolhido, é sempre necessário tentarmos fazer algo diferente ou incomum, só assim conseguiremos encontrar o nosso próprio espaço no mercado. Acredito que há espaço para todas as formas de pensamento e áreas da fotografia no mercado/sociedade, apenas é necessário haver entendimento por parte da própria sociedade para que tudo e todos possamos coexistir.
Hoje (em Portugal), a manipulação digital está a ser melhor aceite noutros gêneros de fotografia que não só a fotografia publicitária. Vejo isso com bons olhos, pois só a experimentação e descoberta de novos poderá abrir horizontes e levar-nos a novos lugares. É desafiante todo o conjunto de possibilidades que a fotografia digital e seus recursos oferece, e a sua fusão com outras técnicas e formas de arte pode dar origem a resultados interessantes.
Continuo e continuarei a trabalhar fortemente na área da manipulação/fotomontagem, o desafio da criação de algo que não podemos observar na realidade é das coisas que mais prazer me dá nos dias de hoje.
Tenho alguns projectos em mente e outros em construção cujos objectivos são sempre a criação de imagens de impacto, atmosferas muito próprias que por vezes poderão fugir à realidade ou encenar o impossível.
Que vantagens e desvantagens vê entre o Lightroom e o Photoshop?
São duas ferramentas com conceitos completamente diferentes. O Lightroom, nos dias de hoje é a ferramenta ideal para o fotógrafo que quer agilizar o seu fluxo de trabalho ao extremo. Por ser uma ferramenta desenhada exclusivamente para fotógrafos, torna-se bastante intuitiva e de fácil acesso, oferecendo bons resultados e de uma forma rápida.
O Photoshop é uma ferramenta bastante mais complexa e completa. É mais complicada de trabalhar porque tem várias utilidades que não apenas trabalhar com fotografia, pelo que, pode ser difícil achar os melhores caminhos para chegar ao resultado final que pretendemos. Mas para quem quer fazer fotomontagem, sobreposição de imagens ou um trabalho de alteração das fotografia mais profundo, terá que recorrer ao Photoshop. Para trabalhar nas imagens com máscaras e uma edição pontual mais precisa, a minha opção também recai pelo Photoshop.
No fundo, o utilizador deverá saber à partida qual o caminho que necessita percorrer para saber que meios deverá utilizar, pois estas ferramentas são completamente diferentes e isso interfere nos processos e metodologias de trabalho de cada um.
Além do seu que mais 5 websites recomenda a quem goste de fotografia e manipulação digital?
Há alguns sites que para mim são referência e costumo usar na fase de pesquisa, como por exemplo: OneEyeLand1XDeviantART, After1MillionArtists
Onde vai buscar inspiração para as suas criações?
Penso que todo o ser humano reflecte no seu trabalho e na sua própria forma de ser aquilo que já experienciou, eu não sou excepção e no trabalho que produzo actualmente estão visíveis as minhas influências do passado.
Numa altura que ainda nem tinha qualquer interesse pela fotografia, costumava seguir e olhar atentamente as obras de autores como M.C.Escher, Magritte ou Salvador Dalí. Estas são as minhas principais fontes de inspiração. Pode dizer-se que os três são autores surrealistas, pois todos eles criam os seus próprios mundos, atmosferas e muitas vezes com base na ilusão de óptica ou da recontextualização do meio envolvente como nós o conhecemos hoje.
O homem desde sempre tentou atingir o impossível, e isso também me aconteceu a mim. Fascina-me poder mostrar nas minhas imagens um mundo surreal e fantasiado, mostrar algo que não conseguimos ver na realidade tal como ela é. Sonhar e colocar os outros a sonhar é um desafio interessante de se conseguir pela narrativa e contexto do trabalho.
No fundo, tal como os meus três autores favoritos, eu crio (ou recrio) o meu mundo mas através de uma outra base de trabalho que não a pintura ou a gravura. Neste caso, uso a fotografia como ponto de partida.
Que conselhos deixaria para quem pretende iniciar-se na fotografia e na manipulação digital?
Este é um tipo de trabalho em que é necessário ter muita paciência, só assim se consegue levar o trabalho até ao final, pois muitas vezes trata-se de um processo frustrante em que só começa a ganhar forma no final.
É importantíssimo fazer um longo e profundo trabalho de pesquisa e planeamento. É importante saber o que está a ser feito por outros artistas, a pesquisa é fundamental também para descobrirmos o nosso próprio caminho como autores.
Por outro lado, é essencial planear todo o trabalho de fotomontagem/foto-manipulação ainda antes de começarmos o processo no Photoshop. Só assim se conseguem definir os melhores caminhos para que seja possível chegar ao resultado pretendido com o mínimo de dificuldades.
Esta é a forma de todas as fotografias/imagens que usamos fazerem sentido ao final, em termos de escala, perspectiva e ideia a transmitir.

André Boto_02

Pode ver mais trabalhos do fotógrafo André Boto nos seguintes websites:
Website: www.andreboto.com
Facebook page: www.facebook.com/andrebotophot
Youtube channel: www.youtube.com/andrebotophoto

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